segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Um IPobre na mão, Radiohead na cabeça [ou A gota d’água]

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Deixar os meus domínios na última quarta-feira e fazer o rotineiro itinerário casa-trabalho-casa de sempre, nunca foi tão inusitado e revelador.

The say the definition of madness is doing the same thing and expecting a different result.

A frase acima consta na música Try it again, do disco novo da banda de rock basicão The Hives e, apesar disso, eles não foram a principal inspiração para o q vem a seguir.

Bom, deixa eu tentar outra vez,,,

Saio de casa, um temporal me espera: I-Pobre na mão, Radiohead na cabeça. Enquanto o mundo se acaba, inicio meu caminho auditivo in rainbows, e sem previsão de encontrar pote de ouro no fim - o tesouro já era o próprio. Foram 15 passos:

How come I end up where I started, How come I end up where I belong
Won't take my eyes off the ball again, You reel me out the you cut the string

A possível sensação incômoda de se encarar um dilúvio de proporções bíblicas que se avizinhava, logo é amenizada com o simples apertar de um play pela nova coleção de canciones da melhor banda inglesa q veio dar lá pelas bandas de Oxford desde o Clash da Bolsa de Londres.

Ok, computer, mesmo sabendo q não há quem possa destronar Sir Steven Patrick Morrisey, - ou The Britain's Greatest Living Icon – [ou, simplesmente, Sr. Smiths] - do seu celibatário posto de Rei dos corações e mentes Manchester afora,,, eniuei,

- God save the Creep.

I have no idea what I am talking about, I'm trapped in this body and can't get out

São Pedro lá de cima não perdoa, enquanto aguardo no ponto a Barca 511, a ponto de me afogar. O mesmo santo ainda descia mais uma lá da porta do Céu, quando avistei meu [Titanic?,,,] ônibus.

Navegando pelos córregos urcanos, - passageiro VIP da embarcação semi-vazia -, logo percebo q esta realmente não será uma viagem rotineira.

Da escotilha vejo o circo molhado se formando nas ruas encharcadas de palhaços, piranhas, pingüins, gatos pingados e peixes-boi - todos sem ter onde amarrar seu bode antes que a vaca fosse pro brejo; deram, sim, com os burros n’água.

- Afinal, com tanta poça, não há quem possa.

Estava ela lá, a senhora,,, ilhada, incrédula-estátua-humana, se equilibrando num banco de bar com sua sombrinha roxa invertida pelo vento sacana; uma Mary Poppins náufraga que desaprendeu a voar.

Estava ele lá, o senhor,,, yuppie de terno bacana, guarda-chuva xadrez combinando com a gravata, correndo desequilibrado pelo meio-fio; um Gene Kelly bêbado catando cavaco atrás de um táxi q não o veria. Numa chuva dessas, todos são invisíveis.

Estava eu lá, tranqüilo,,, curtindo meu cruzeiro da zona sul, doces sonhos, céu de brigadeiro, bolinho de chuva, peitinho de moça,,, ops! É a vida de primeira classe, relax, curtida na minha arca de noé privé, sem pressa de chegar, chuá-chuá. ~ ~ ~

As câmeras da Cet-Rio não conseguiriam flagrar meu sorriso de alívio e satisfação q transitava livre, sem retenções. E Thom Yorque também, singin’ in the rain.

In the deepest ocean , The bottom of the sea , Your eyes, They turn me, Why should I stay here?, Why should I stay?

Entre tantos weird fishes boiando pelas ruas, não havia como não sentir-me peixe fora d’água.

E vinte minutos de catarse-coletivo depois, o busão atracou no ponto; desço leve e sereno, água nas canelas, allstar vermeho submerso. A cada passada, cadarços soltos acenam desesperados, pedindo socorro como bonecos do posto epiléticos. Eles precisam de um respiro?, beleza.

Então, nada de bússola ou GPS, simplesmente ando sobre as águas sem o menor esforço - e com a maior confiança de quem se sente Filho do Dono.

E sentindo saudades de alguém q nunca vi.

- No importa.

You are all I need, You are all I need , I'm in the middle of your picture, Lying in the leaves

Sigo pela trilha sonora radio-head-fônica em rotação natural, enquanto a selva de pedra afunda ao redor, em câmera lenta; não há voluntários da pátria que os pariu q consigam dar jeito no aguaceiro. E São Clemente tampouco faz milagre. E muito menos Dona Marta vai descer o morro pra ver de perto o q já conhece tão bem. Essa é a real grandeza dos fatos, bicho: na batalha naval das ruas, não adianta fazer uma fezinha: se tu botar fogo, vai dar água na cabeça.

A fauna que aflora desorientada e fora da área de serviço me chama a atenção; ninguém a atende. Eu não ligo. A prima Vera também não. Dá-lhe Verão! Estamos ocupados, sintonizados em outra estação: é a radio-cabeça, sem jabá. Qué pagá quanto, rapá?

- It’s up to you.

Os bueiros regurgitam a água suja pelos orifícios, expulsando de suas veias envenenadas o lixo subterrâneo por meses represado; um chafariz de esgoto que democratiza a leptospirose companheira, totalmente livre de impostos e ao alcance de todo e qualquer cidadão; de Big Field ao Lebron, independente de classe, credo ou cor, mermão!

Não esquenta. É só o aquecimento global indo por água abaixo, peixe; a cidade chorou porque hoje é quarta - de cinzas - nas águas de outubro ou nada; e como se nada,,,

Estava ela lá, a Rio-Cidade,,, pisada, ignorada e violada em suas entranhas, invadida em cada fenda exposta das suas calçadas moribundas, marcadas por queimaduras de 40 graus das guimbas de cigarro alheias, torturada e humilhada diuturnamente com toneladas de milho jogados pelos desocupados para o deleite das ratas com asas. Pombas, meo!

Resultado: ela apenas deu sua resposta aos que deveriam amá-la mas não foram capaz.

- Foi a gota d´água.

E em meio a todo aquele caos urbano, tudo, enfim, fazia sentido pra mim; confortavelmente fora dos eixos.

I don't want to be your friend, I just want to be your lover, No matter how it ends, No matter how it starts,,,

~ ~ ~ x ~ ~ ~

Trilha Sonora: RadioheadIn Rainbows.

Músicas: 15 step, Bodysnatchers, Weird fishes, All I need, House of cards.


Marcus Losanoff



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3 comentários:

Manu disse...

No se cuanto entend� no se cuanto imagin�... pero se que tus palabras tienen m�s m�sica que aquel soundtrack que sonaba de fondo!

Manuzhina! =)

palácios disse...

ah, lek! tua poesia já tá servindo para o que deve.

ainh? disse...

tu és um escritor (a) sério